Nanã Buruquê

Origem
A mitologia iorubá incorporou Nanã, uma Orixá feminina de origem daomeana, há séculos. Essa incorporação ocorreu quando o povo nagô conquistou o Daomé (atual República do Benin), assimilando assim a cultura dos dominados e incorporando alguns de seus Orixás à sua mitologia já estabelecida.
Dessa forma, Oxalá, originalmente um mito ioruba, manteve sua posição como pai de quase todos os Orixás. Iemanjá, também um mito ioruba, permaneceu como mãe de seus filhos nagôs. Enquanto isso, Nanã, um mito jeje, assumiu a figura de mãe dos filhos daomeanos, sem questionar a paternidade de Oxalá sobre estes. No entanto, essa paternidade não era original nas primeiras lendas do Daomé, anteriores à existência de Oxalá. Os mitos daomeanos eram mais antigos, originários de uma cultura ancestral anterior à descoberta do fogo.
Para conciliar essa cronologia, a narrativa inseriu Nanã e o nascimento de seus filhos como acontecimentos anteriores ao encontro de Oxalá e Iemanjá. Assim, ela tornou-se a primeira esposa de Oxalá, tendo com ele três filhos: Iroco (ou Tempo), Omolu (ou Obaluaê) e Oxumaré.
A Mãe das Águas Paradas
Divindade mais antiga do panteão yorubá, Nanã domina as águas paradas, pântanos e lodo. Ela nutre a vida que floresce nesses domínios e simboliza a poderosa força da criação. Além disso, Nanã não apenas representa a vida, mas também a morte, atuando como deusa da criação e da transformação. Assim, sua figura, complexa e abrangente, simboliza os ciclos da natureza e os mistérios da existência.
Nanã, através de seu símbolo, o íbiri, evoca essa dualidade. O íbiri, um feixe de ramos de palmeira adornado com búzios, representa portanto uma força primordial, capaz de criar e destruir, nutrir e transformar. Ele também simboliza a profunda conexão da deusa com a natureza e com os elementos.
O banho de chuva, um ritual sagrado em homenagem a ela, permite que seus devotos se purifiquem e renovem. A chuva, enviada pela deusa, cai suavemente sobre a terra, dessa forma nutrindo-a e purificando-a. Assim, a água, em suas diversas manifestações, é um elemento central no culto a Nanã.
Nanã: A Forjadora da Vida
Nanã Buruquê personifica a união primordial da água e da terra, o ato criador divino. Ela é o ponto de encontro desses elementos, dando origem ao barro, a matéria-prima da vida. Assim, Nanã não apenas testemunhou a criação, mas ativamente a moldou.
Deus, unindo água e terra, moldou o barro e, com um sopro divino, insuflou nele vida. Em seguida, esse barro animado adquiriu forma, tornando-se o primeiro homem. Portanto, para muitos, ela é a divindade suprema, a responsável pela criação de toda a vida na Terra.
Além disso, Nanã está intrinsecamente ligada aos ciclos da vida e da morte. Ela governa a transformação contínua da matéria, garantindo que nada se perca. Desse modo, ela cria e renova tudo, governando tanto o nascimento quanto a morte.
A Deusa da Transformação
Nanã, uma figura complexa e controversa no panteão africano, inspira de fato tanto reverência quanto temor. Ora, ela se revela sobretudo como uma deusa poderosa e justa, guardiã dos princípios morais. Igualmente ela não tolera traição, indiscrição ou roubo. Exige de seus devotos lealdade e respeito e, assim sendo, castiga aqueles que a desonram.
Por outro lado, Nanã também apresenta um lado mais sombrio. É vista como uma figura misteriosa e enigmática, associada à morte e à transformação. Governa o reino dos mortos e preside sobre os processos de renascimento. Então, muitos a temem por sua ligação com o desconhecido e com os mistérios da existência.
Essa dualidade presente em Nanã reflete a complexidade da vida humana. Ela representa tanto a criação quanto a destruição, assim como a vida e a morte, o bem e o mal. É a deusa das contradições, que nos lembra que a existência é marcada por contrastes e que a luz e a sombra caminham lado a lado.
A personalidade de Nanã se manifesta de diversas formas em seus filhos. Enquanto alguns herdam sua força e justiça, outros podem apresentar um caráter mais reservado e introspectivo. É comum encontrarmos filhos de Nanã com personalidades aparentemente contraditórias, como aqueles que, apesar de serem vaidosos e extrovertidos, possuem uma profunda conexão com a espiritualidade.
Nanã é a Guardiã do Reino dos Mortos
Enquanto Oxum traz as almas para o mundo terreno, Nanã conduz as almas de volta ao astral. Ela guia as almas que já cumpriram seu ciclo na Terra, conduzindo-as para o reino dos mortos. Assim, Nanã não é apenas a deusa da morte, mas também a guardiã desse mistério, possibilitando o acesso a esse território desconhecido.
A senhora do reino dos mortos é representada pela terra fofa, que acolhe os corpos e os devolve à natureza. Ela nutre os corpos em decomposição, imitando o ventre materno e oferecendo um descanso final. Por isso, ela é cercada de mistério e reverência, sendo tratada com mais respeito e menos familiaridade que outros Orixás mais extrovertidos, como Ogum e Xangô.
Os Mistérios de Nanã
Nanã guarda muitos mistérios. Ela conduz os mortos para um processo de transformação, preparando-os para um novo ciclo de vida. Assim, a morte, para Nanã, não é o fim, mas sim uma passagem para um novo começo. É ela quem garante que cada alma possa renascer, vivenciar um novo destino.
Nas comunidades de Umbanda e Candomblé, Nanã é vista como uma figura austera e justiceira. Ela exige de seus devotos um compromisso sério e inquebrantável. Jurar por Nanã implica em uma promessa sagrada, pois a Orixá espera lealdade e respeito.
Nanã forma uma parceria com Obaluaê. Enquanto ela prepara o espírito para a reencarnação, Obaluaê conduz a alma para o plano material. Ele envolve o espírito em uma irradiação especial, reduzindo seu corpo energético e preparando-o para a encarnação.
Nanã, por sua vez, envolve o espírito em uma irradiação única que apaga as memórias da vida anterior. Ela adormece a consciência, preparando-a para uma nova vida. Por isso, Nanã é associada à velhice, quando a memória começa a falhar.
Nanã exerce um papel fundamental na memória dos seres. Enquanto Oxóssi aguça o raciocínio, Nanã adormece os conhecimentos do espírito para que eles não interfiram em seu novo destino. Assim, ela prepara a alma para uma nova experiência terrena, livre das amarras do passado.
Além disso, Nanã está presente em diversas fases da vida da mulher. Enquanto Oxum estimula a sexualidade feminina e Iemanjá a maternidade, Nanã marca a transição para uma nova fase, a menopausa. Nesse momento, ela paralisa tanto a sexualidade quanto a geração de filhos, iniciando um novo ciclo na vida da mulher.
Essa grande Orixá é protetora dos idosos e da família. Ela domina as águas, as chuvas e o lodo, simbolizando a transformação e a renovação da natureza.
Características Gerais:
Cor | Roxa ou Lilás (Em algumas casas: branco e o azul) |
Fio de Contas | Contas, firmas e miçangas de cristal lilás. |
Ervas | Manjericão Roxo, Colônia, Ipê Roxo, Folha da Quaresma, Erva de Passarinho, Dama da Noite, Canela de velho, Salsa da Praia, Manacá. (Em algumas casas: assa peixe, cipreste, erva macaé, dália vermelho escura, folha de berinjela, folha de limoeiro, manacá, rosa vermelho escura, tradescância) |
Símbolo | Chuva. |
Pontos da Natureza | Lagos, águas profundas, lama, cemitérios, pântanos. |
Flores | Todas as flores roxas. |
Essências | Lírio, Orquídea, limão, narciso, dália. |
Pedras | Ametista, cacoxenita, tanzanita |
Metal | Latão ou Níquel |
Saúde | Dor de cabeça e Problemas Intestino |
Planeta | Lua e Mercúrio |
Dia da Semana | Sábado (Em algumas casas: Segunda) |
Elemento | Água |
Chakra | Frontal e Cervical |
Saudação | Saluba Nanã |
Bebida | Champanhe |
Animais | Cabra, Galinha ou Pata. (Brancas) |
Comidas | Feijão Preto com Purê de Batata doce. Aberum. Mungunzá |
Numero | 13 |
Data Comemorativa | 26 de julho |
Sincretismo: | Nossa Senhora Santana |
Incompatibilidades: | Lâminas, multidões. |
Qualidades: | Ologbo, Borokun, Biodun, Asainán, Elegbe, Susure |